sexta-feira, 13 de maio de 2011

Entrevista exclusiva com o ex-campeão do UFC, Rashad Evans



Por Eduardo Cruz, repórter do blog:

O blog Mano a Mano em parceria com a revista inglesa Fighters Only entrevistou o ex-campeão meio-pesado do UFC, Rashad Evans. Em conversa franca, “Sugar” falou sobre vários assuntos relevantes, dentre eles os treinamentos com o atual campeão da categoria, Jon Jones, e o próximo combate contra Phil Davis, nova sensação da organização. Confira a primeira parte do papo exclusivo:

Blog Mano a Mano - Você está decepcionado por enfrentar o Phil Davis e não o Jon Jones?

RASHAD - Para ser honesto, estou um pouco decepcionado mas estou em um ponto agora que apenas quero lutar de novo. Estava teinando muito pesado e retornando a forma e recuperando meu joelho para voltar 100%. Estava com minha mente voltada aos treinos e tentando ir lá e me provar novamente para mostrar ao mundo que sou um dos melhores lutadores da categoria meio-pesado.


É uma luta interessante para você ou é apenas o caso de desenferrujar em função do tempo afastado?

Não, é uma luta muito interessante. Phil Davis não é um lutador que pegaria como oponente para tirar a ferrugem. O garoto é uma ameaça real. Na verdade, estive com ele em Las Vegas há alguns meses e estava brincando e dizendo a ele ‘estou de olho em você’. Sou fã e gosto muito dele. Cada vez que ele luta normalmente torço por ele, que vem de experiência no wrestling, e tenho visto sua evolução. Sabe, estava assistindo-o lutar quando ele começou, vi sua estreia no MMA e tenho visto ele crescer e crescer como lutador e vi a confiança dele aumentar. Estou muito empolgado para entrar lá com um cara em progresso como esse.


É uma luta perigosa para o Phil Davis. Ele é inexperiente comparado a você e talvez algumas pessoas digam que ele não é do seu nível…

Bem, toda essa conversa sobre quem está em qual nível é decidida na jaula. Posso proclamar estar num nível mais alto e então ele chega lá e me acerta uma direita, faz algo certo e tudo vai pela janela. Sabe, para ser alguém é preciso derrotar alguém e ele está agora na principal posição para ir lá e fazer o nome sobre mim. Não posso permitir que isso aconteça, tenho que ir lá e lutar como se essa fosse a minha luta pelo título, porque para ser honesto, tenho estado fora por longo período e estou com fome de lutar novamente, quero lutar novamente. Estou cansado de correr atrás do cinturão, agora deixarão que o cinturão venha atrás de mim. Com isso quero dizer que irei lá e vencerei algumas lutas em sequência e lutarei com todo o meu coração.


Conseguir algumas vitórias em sequência? Mas certamente se você bater o Davis você terá a disputa de cinturão de novo.

Da maneira como as coisas têm acontecido ultimamente, nunca se sabe. Não direi que isso definitivamente acontecrá se eu derrotar o Phil. Se eu obtiver a disputa do título após passar por ele, será um bônus, mas no geral estou indo lá apenas para lutar.


Após todo esse tempo longe do octógono, como você retoma sua mentalidade para a luta?

Uma coisa que faço é manter-me ativo, treino e faço sparring com caras que estão competindo regularmente e que estão ligados e no ponto. Com isso, treinar e similuar lutas são muito diferentes de uma luta real mas te dá a noção de onde sua percepção está, onde você está esperto e onde você está atrasado. É tipo um ensaio que você atravessa para certificar-se de que sua técnica ainda está lá. Mas tenho sido muito abençoado por ter um ótimo time em volta de mim agora que me deixa apenas me preocupar em lutar. Eles trouxeram o Jen Wenk para ser o relações públicas e então não tenho preocupação com esse tipo de assunto, e meu agente Glen Robinson lida com o ponto de vista dos negócios. Essa é a primeira vez em minha carreira onde posso acordar de manhã e apenas me focar na luta sem me preocupar com qualquer outra coisa.


Você conhece a teoria da conspiração em que o Jon Jones finge estar machucado para não ter que te enfrentar? Acredita nisso?

Não posso me preocupar se ele veio com uma desculpa para não lutar comigo ou se é verdade e ele está mesmo contundido. Gostaria de acreditar que algo está errado com ele porque um lutador como o Jon Jones – que tem sido tão confiante e que absolutamente vai para cima. Não acho que tenha algo que o intimide neste momento, então usando truque para não lutar comigo. O garoto busca desafios, gostava quando estávamos treinando ele forçava o ritmo e agia como um cara durão. Eu era o principal parceiro de treino dele e oferecíamos ao outro momentos difíceis na prática.


Então você era o principal companheiro dele… ele era o seu principal parceiro de treinamento também?

Sim, para a luta dele com o Ryan Bader… não treinamos juntos por alguns camps mas eu quis restabelecer o relacionamento com ele porque tivemos história um pouco problemática antes, pela maneira como ele veio e como eu deixei a equipe, então ouvi rumores de que ele havia dito que poderia me derrotar e outras coisas similares, então eu e ele conversamos e começamos a estabelecer a relação e eu quis ir para Albuquerque e realmente solidificar as coisas e apenas ser um parceiro de treino porque senti que em termos de estilo eu e eo Bader somos comparáveis e sabia que poderia dar a ele uma boa mão. Então durante a preparação para enfrentar o Bader, fiz tudo que pude para provar que ele estava pronto para aquela luta. Eu estava sendo o Ryan Bader durante os treinos e fazendo as coisas que o Bader fazia, tomando alguns dos golpes que o Jon Jones acertou no Bader. Quando se está treinando com o objetivo de ir lá e ser outra pessoa, e isso era o que eu estava fazendo pelo Jon. E aquilo foi bom para mim porque comecei meu treino [para a luta contra o Shogun que acabou não acontecendo] cedo em Albuquerque. Comecei com treze semanas de antecipação já que normalmente teria um preparo de oito semanas. Quis começar minha preparação realmente bem e em alto nível com alguém do nível dele e ao mesmo tempo dei a ele uma boa perspectiva para sua luta.


MANO A MANO - Como tem sido para você ter deixado a equipe do Greg Jackson e se mudar para outro lugar? Isso te abalou emocionalmente?

RASHAD - Foi um grande abalo para mim e eu não esperava que fosse de fato. Não éramos os melhores amigos mas tínhamos uma química juntos, nós exigíamos um do outro e acho que nos tornamos melhores. Ele é muito criativo e às vezes ele falava coisas do tipo ‘Ei, Rashad, você deveria tentar esse movimento. Acho que funcionaria contigo’ e então eu mostrava a ele coisas que eu sei e trocávamos ideias.

Nunca houve egoísmo quando ele tentava controlar a situação ou vice-versa, era puramente exigir um do outro. Era uma competição saudável na prática do treino onde nós tentávamos dominar o outro. E então eu estava fazendo sparring com outras pessoas e ele dizia “Ei, Rashad, cuidado com isso, cuidado com aquilo’ e era como amigos ou irmãos.

Definitivamente crescemos juntos e foi como se a equipe fosse a minha família. Vou embora para outra equipe e poderá ser difícil ficar distante do meu lar. Adorei todos do time, então não estar lá mais, sentir aquela energia e fazer parte daquilo é algo difícil.


Quando ouço você falar sobre isso, você não parece estar com raiva, chateado, você se mostra traído, ferido, emocionado…

Sim, esse era o meu exato sentimento. Me senti traído e mais ferido que qualquer outra coisa. Não me senti confortável em ter o Jon Jones no time apenas porque eu sabia o quanto ele ficaria bom. Gosto de competir com os melhores, quero competir contra os caras que todo mundo diz que eu posso bater e agora um deles está na equipe? Não gostei daquilo de jeito nenhum. Dito isso, tivemos que crescer próximos e adorei a maneira como ele estava progredindo.

Antes da luta com o Shogun, sabia que ele absolutamente iria destruí-lo porque eu conhecia a capacidade do Jones. Jon é a única pessoa que pode bater o Jon às vezes. Ele é um ótimo lutador e sabia que se ele fosse lá focado, destruiria o Shogun. Mas tem sido algo muito difícil não ser parte da equipe que eu ajudei a construir.


Desde que você e o Jones se separaram, parece ter havido algumas divisões na equipe do Greg Jackson. Nate Marquardt disse que lutaria com o Georges Saint Pierre, se tivesse que enfrentá-lo, o treinador Wittman está ao seu lado, Jackson com o Jones… A aliança com o Jones está causando um descontrole da situação?

A questão foi que aquela fraternidade foi iniciada com cinco lutadores: eu, Marquardt, Joey Villasenor, Keith Jardine e St-Pierre. A coisa toda foi que éramos um grupo de caras que gostavam de treinar juntos e que realmente dávamos tudo o que tínhamos. E na época, as únicas pessoas que tinham opinião de não lutar com o outro éramos eu e Jardine.

Fomos capazes de evitar isso, embora às vezes tenha chegado próximo de acontecer. Chegou próximo disso quando, ‘se o Jardine não tivesse tomado aquele knockdown contra o Rampage nos últimos dez segundos, teria sido eu que iria enfrentá-lo na próxima luta, e não o Rampage.

Então isso chegou muito perto mas nosso time e a grandeza que estabelecemos foram construídos no amor e no quanto nós éramos dedicados. O tempo que tínhamos de folga [intervalo entre as lutas], dedicávamos a fazer com que o outro se tornasse um lutador melhor. Tínhamos estratégia em que numa semana o Jardine treinaria com o Saint Pierre, e então na próxima eu iria, e assim por diante. Isso garantia que ele teria um parceiro de alto nível a cada semana do treinamento. Fazíamos isso pelo outro há anos.

Agora isso se tornou algo fundamentalmente diferente do que nós começamos. Antes, não era pelo cinturão – embora todos treinássemos para sermos campeões – e não era para passar por cima dos seus amigos para chegar lá, não era tanto pelo dinheiro. Era apenas pelo amor ao esporte, amor pela competição, pelo treinamento. Tudo está diferente agora.


O Jon Jones comentou que te bateu nos treinos muitas vezes. Como você reage a isso?

A única coisa que me entristeceu acerca dessa declaração é que não foi verdade. Se fosse verdade, eu agiria tipo “OK, que seja”. Se o Jones se deu melhor que eu em algum treino foi provavelmente porque eu estava tentando fingir que era o Ryan Bader.

A única tarefa do meu trabalho como parceiro de treinamento é ter certeza de que meu lutador irá ao octógono cem por cento confiante. Não pode haver dúvidas em sua mente, pois se houver, ele hesitará. Então quis que ele fosse lá confiante e se isso significou que tomei uma joelhada ou um soco, está tudo bem.

Em relação a luta agarrada, ele nunca me finalizou ou sequer chegou próximo. Nem mesmo na mesma liga. Houve coisas que fiz com ele durante os treinos as quais estou certo de que ele jamais se esqueceu. Mas isso não é sobre o que acontece em treinos. Tenho derrotado e destruído alguns dos melhores e eles têm feito o mesmo a mim.

Uma vez o Damacio Page [peso pluma] chutou o meu traseiro! É isso o que ocorre em treinos, às vezes você é o tubarão e às vezes a isca. Não tem a ver com vencer em toda a preparação, tem a ver com aprender todas as vezes e se tornar mais forte.

O treinamento imita a luta e às vezes você estará numa luta onde terá seu traseiro sendo chutado quando estiver cansado durante o combate e pensará “quer saber, vou passar por isso porque já encarei isso antes”. Então o fato dele ter dito isso mostra mais insegurança por parte dele para mim do que qualquer outra coisa.

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