sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Entrevista com Fabrício Werdum
Fora do UFC após dois anos de contrato com o evento americano, Fabrício Werdum aceitou o convite da TATAME e passou pelo desafio de encarar as perguntas dos mais exigentes entrevistadores: seus fãs. Respondendo aos questionamentos dos assinantes da TATAME, Werdum falou sobre seu começo no MMA e a derrota para Junior “Cigano” no UFC e a luta de seus sonhos. “Lutaria com qualquer um, mas se pudesse escolher queria fazer uma revanche com o Arlovski. Aquela luta não foi legal, foi uma estréia contra um ex-campeão. Tem gente que falou que ganhei, outros que ele ganhou ou foi empate, mas quero uma revanche com ele e depois lutar com o Fedor, que é a vontade de todo mundo... Ele é o melhor do mundo”, contou. Confira abaixo o bate-papo exclusivo com o lutador, que falou sobre seus treinamentos com Cro Cop e a carreira no Jiu-Jitsu e MMA.
Como foi seu treinamento com Cro Cop? (Rodrigo Franzoni de Lima)....
Foi uma experiência muito boa que passei na Croácia, foram anos de experiência, ainda mais no começo da carreira, foi fundamental. Vi os treinos do Mirko, acompanhei tudo junto com ele, foi uma experiência diferente. Ele é um cara que treina muito, é dedicado, impressionante. Já treinei em diversos lugares e o Mirko é impressionante, ele mantém o programa dele, treina duas vezes por dia, de manha e noite. A gente acordava às 5:30 da manhã para treinar. Ele tinha aquele negocio de militar, não tinha moleza, era bem puxado. De manha fazíamos a musculação, eu, ele e o Igor, o braço direito dele, e depois fazíamos uma hora de Jiu-Jitsu, dava aula particular pra ele. Treinávamos saída de montada, repor a guarda, cem quilos, e depois íamos pra casa... Eu morava com ele junto no começo, a mãe dele fazia um café pra nós e depois descansávamos e íamos treinar de novo, até às 8 da noite.
Qual seu sentimento com a Chute Boxe? (Rodrigo Franzoni de Lima)
É o meu time. Pretendo ficar por muito tempo, até o final da minha carreira serei Chute Boxe.
Meu ex-manager era o mesmo do Mirko e rolaram uns rumores de que iria para a Chute Boxe, mas ele me chamou para ir para a Croácia e que ia me colocar no Pride por três anos. Liguei para o Rudimar e falei com ele e me apoiou, disse para eu ir, pois seria uma grande oportunidade para mim e que as portas sempre estariam abertas na Chute Boxe. Fiquei um bom tempo no Pride e, hoje, visto a camisa da Chute Boxe com muito orgulho, agora aqui nos Estados Unidos. Os treinos aqui com o Rafa (Rafael Cordeiro) são muito bons. Estou muito feliz aqui. Estou indo de bicicleta para os treinos na academia, está um sol forte mesmo no inverno. Chute Boxe sempre, até o final da minha carreira.
Como é o seu relacionamento com Gabriel "Napão"? (Rodrigo Franzoni de Lima)
O Napão é aquele negócio. A gente não tem aquela amizade de se ver sempre, se ligar, mas é uma amizade de campeonato. A gente conversa nos eventos, não tenho nada contra ele, somos profissionais. Pode ser de estarmos no mesmo evento no futuro e nos enfrentarmos, mas não tenho nada contra ele, é aquela realidade do ringue.
Para você, qual seu maior erro na luta contra o Cigano? (Felipe Teixeira de Oliveira)
Não foi um erro, mas sim que ele me surpreendeu. A estratégia era botar pra baixo, mas não podia tentar muito rápido porque ele ia evitar a queda, então tinha que fazer uma firula em cima 8ara ele pensar que eu ia trocar com ele, mas foi tão rápido que não deu nem tempo de fazer a minha estratégia. Ele me surpreendeu mesmo. Eu não ia trocar com ele, mas queria que ele pensasse isso. Ele deve ter treinado muito para evitar a queda, o clich, mas o soco dele entrou muito forte. Foi o soco mais forte que já tomei na minha carreira, nunca tinha sido nocauteado. Ainda mais que eu dei um passo pra frente e baixei a cabeça contra a mão dele. Eu estava em condições, estava preparado. Teve gente que falou que eu estava fora de forma, mas não, eu fiz tudo certo em Curitiba, treinei Muay Thai, chão, tudo. Eu realmente não tinha feito a dieta, então pareceu que eu estava fora de forma, mas eu não estava. Eu ficaria triste se isso tivesse acontecido no segundo ou terceiro round, se tivesse visto que ele estava superior a mim, mas não tive tempo nem de mostrar como estava bem.
Qual o lutador mais técnico que você enfrentou no pano? (Felipe Teixeira de Oliveira)
Tem dois, na verdade. O Roger Gracie é impressionante na técnica e calma. Ele faz Jiu-Jitsu, Submission e ADCC sempre com a mesma cara, não muda de expressão. O meu jogo fecha com o dele, sou um cara grande, mas não uso muito a força, sim a técnica. Outro é o Tererê, que eu venci na final da categoria pesadíssimo no Mundial de 2004. Ele falou que ia ganhar do grandão, quebrar minhas pernas, aí era muita onda, né? (risos). Ele é muito técnico, não faz muita força e só usa a velocidade.
Você pense em lutar o próximo ADCC? (Felipe Teixeira de Oliveira)
Com certeza. Meu foco é o ADCC agora. Estou treinando tudo aqui. Como ganhei em 2007, estou classificado e focado nisso, fazendo meus treinos sem quimono. É bom treinar tendo um objetivo. Estamos em negociação com o Affliction, mas minha negociação só vaio acontecer depois desse evento. Vou ver se luto lá ou no Sengoku, mas meu foco agora é o ADCC.
Fedor, Arlovski ou Josh Barnett. Se você pudesse escolher, quem você gostaria de enfrentar? (Felipe Teixeira de Oliveira)
Lutaria com qualquer um, mas se pudesse escolher queria fazer uma revanche com o Arlovski. Aquela luta não foi legal, foi uma estréia contra um ex-campeão. Tem gente que falou que ganhei, outros que ele ganhou ou foi empate, mas quero uma revanche com ele e depois lutar com o Fedor, que é a vontade de todo mundo, ele é o melhor do mundo. Esse negócio de falar que o (Brock) Lesnar é o melhor do mundo não existe, sou contra isso. O cara tem quatro lutinhas e já é campeão do mundo? Tudo mundo sabe que o Fedor é o melhor. Nos pesados, acho que os melhores estão no Affliction. Tirando o Minotauro, o resto ali no UFC é meia-boca. O UFC conseguiu o que queria, dois americanos para lutar na “final”. O marketing é o mais importante, eles são bons nisso. O Frank Mir também, essa final entre eles não existe.
Numa futura luta com Fedor, qual seria a estratégia para derrotá-lo? (Felipe Teixeira de Oliveira)
Eu faria uma coisa bem simples, tentar botar ele pra baixo. É difícil botar o gordinho pra baixo, mas ficaria por cima, passar a guarda e montar, pegar uma kimura... É difícil bater o Fedor na porrada, dando soco nele no chão. Pode acontecer, mas vai ser muito difícil dar soco nele e ele parar, tem que pegar numa chave para ele render. Acho que ele até deixa o braço quebrar, mas não bate. Tem que ser no pescoço para botar ele pra dormir. Eu treinaria muito Wrestling para botar ele pra baixo e, se ficasse por baixo, ficaria com a guarda bem fechada.
Qual a luta mais marcante de sua carreira e por quê? (Felipe Teixeira de Oliveira)
Tem várias, mas a mais marcante foi contra o Minotauro. Não pelo fato da luta em si, lutar contra um ídolo meu, mas aconteceu aquela tragédia antes da luta, mataram o meu professor e eu estava mais preocupado com a homenagem que faria do que com a luta. Perdi 5kg antes da luta por causa de uma amidalite, fiquei no hospital até o dia antes da luta e o médico não queria que eu lutasse. Não desmerecendo a vitória do Minotauro, estou contando o que aconteceu.
Na sua opinião, quem vai ficar com o cinturão definitivo do UFC: Lesnar ou Mir? (Felipe Teixeira de Oliveira)
Agora ficou difícil, mas o Mir já tem uma vitória sobre ele e isso vai pesar um pouco. Quando o Mir ganhou do Minotauro, ele olhou para o Lesnar e falou que o cinturão era dele. Deu para ver que o Lesnar ficou com uma cara estranha, sem jeito, deu uma amarelada... O Mir vai levar.
Você acha que ter saído do UFC enquanto era até cotado para disputar o cinturão pode atrapalhar sua carreira? (Antonio Rivanildson da Costa Carvalho)
O UFC estava muito bom para mim, tinha mais quatro lutas no contrato, mas quiseram renegociar. Não podia aceitar o que falavam. Demorei um tempo para montar minha estrutura para quererem cortar minha bolsa e eu abaixar a minha cabeça. O lutador também tem orgulho. Foi muito bom o tempo que fiquei lá, mas da minha parte foi assim. Com eles ou é assim ou acabou. Era como se eu voltasse para o início da minha carreira, quando lutei pela primeira vez na Inglaterra e queria até pagar pra lutar, mas tive minhas vitórias, ganhei prestígio e minha bolsa estava excelente, mas não tem como aceitar o que eles queriam. Vou ver se fecho com um evento que me valorize, quem dá o show são os lutadores. Sem nós, os eventos não são nada, eles precisam da gente.
O que você acha da campanha pelo Jiu-Jitsu nas Olimpíadas de Londres? Você acha que pode acontecer? (Berzotti Lucas)
Imagina que legal o Jiu-Jitsu nas Olimpíadas? Eu acho que é possível e ia ser muito bom. Não sei em quantos países tem Jiu-Jitsu, mas o mundo inteiro conhece. Há quatro ou cinco anos não tinha como, mas hoje todo mundo conhece, dá pra fazer. Ia ser muito legal para o pessoal se dedicar, acho que eles merecem umas Olimpíadas se dedicando pelo Brasil, seria muito bom. O pessoal gosta de treinar, fica o dia inteiro na academia e acho que merecem essa recompensa.
Você acha que a migração dos lutadores de Jiu-Jitsu para o MMA pode tirar a hegemonia brasileira do pano? (Berzotti Lucas)
O pessoal luta por uma medalha, mas chega uma hora que não dá mais, tem família pra sustentar e, aí, lutar por medalha não dá. Tinha que ter uma premiação em dinheiro para a galera entrar mais animada. Em 2009 isso vai mudar, estão tenho muitos campeonatos na Jordânia e Abu Dhabi com premiação, então a galera se esforça, pede patrocínio e paga a passagem em 600x, porque aí já vale a pena. O esporte vai evoluindo, não pode parar no tempo. Medalha é medalha, é importante, mas chega uma hora que o cara pensa duas vezes antes de ir. Tem gente que prefere lutar de quimono, mas vai para o MMA por necessidade.
Quem você apontaria como um nome forte para o futuro do MMA? (Berzotti Lucas)
Eu acho o Thales Leites muito bom e vai lutar agora com o Anderson Silva. Ele tem a oportunidade de ganhar se jogar pro chão e fazer um bom Jiu-Jitsu. Outro que está muito bem é o Demian Maia. O vi lutando e está bem centrado, lutando muito bem.
Tirando a questão financeira, você prefere lutar MMA, ou Jiu-Jitsu ou Submission? (Berzotti Lucas)
Um tempo atrás, quando ainda lutava nos Mundiais, Europeu, gostava mais de quimono porque ainda não tinha sentido o MMA. Hoje, coloco o Vale-Tudo em primeiro lugar, Submission em segundo e Jiu-Jitsu em terceiro. Me dou melhor sem pano, prefiro isso.
Quando começa uma luta e você percebe que seu adversário está superior a você, vencendo a luta, o que passa pela sua cabeça? Tenta seguir a estratégia ou muda totalmente os planos? (Éderson Silva)
Quando acontece isso o cara não está bem preparado, mas se acontecer de o cara estar melhor vou arriscar. Se eu vejo que ele ganhou os outros rounds não vou ficar parado olhando pra ele, vou arriscar tudo, ir para finalizar.
Se seu oponente possui o mesmo nível técnico que o seu, você prefere enfrentá-lo no chão ou na trocação? (Éderson Silva)
Com certeza vou para a minha praia, o Jiu-Jitsu. Minha origem é essa, não tem como fugir disso. Se vejo que o cara é bom em pé e no chão, no mesmo nível que eu, vamos para o chão ver quem é o melhor.
Você acredita que, com uma conquista sua de um cinturão, a Chute Boxe voltaria ao topo? (Afonso Afrânio da Silva Junior)
Com certeza, mas vou dizer que a Chute Boxe sempre será a Chute Boxe, que já fez muito pelo Vale-Tudo e já foi a melhor equipe do mundo e, para mim, ainda é a melhor. Com certeza, em 2009 vamos mudar essa idéia que algumas pessoas têm de que a equipe baixou um pouco, a galera pode esperar que virei com tudo. Vou treinar muito para mostrar que a Chute Boxe está na ativa, ainda mais com os novos talentos daqui de Cutiriba e uma gurizada daqui que vai dar o que falar.
Até que ponto a diferença entre ringue e octógono influencia no jogo de um atleta? (Afonso Afrânio da Silva Junior)
Para mim, não faz muita diferença. Estando preparado, é a mesma coisa. A diferença que sinto é o público do Japão para os Estados Unidos. O público japonês entende mais, já o americano não gosta da luta no chão, prefere em pé, mais Boxe e Muay Thai. Japonês sabe apreciar e sentir o chão, conhecem os movimentos, ficam quietinhos só observando. Quando a luta vai para o chão não tem que subir rápido... Se ficar muito tempo parado teudo bem, mas tem que deixar rolar, é uma luta de MMA, não de Boxe ou Muay Thai.
Você acha que, no atual nível do MMA, a preparação física faz toda a diferença? (Afonso Afranio da Silva Junior)
A preparação física é muito importante. Antigamente o Jiu-Jitsu ganhava tudo, mas, hoje, todo mundo sabe fazer isso, Boxe, Muay Thai, Wrestling, então o nível está muito igualado, o que faz a diferença é a preparação física. Na minha opinião, a luta hoje é 70%, condicionamento físico. Quem não fizer uma preparação física boa vai ficar pra trás.
O que você achou da vitória de Brock Lesnar sobre o Randy Couture? Como você acha que seria uma luta entre você e o Lesnar? (Jardel Moreira Monteiro)
Eu ia matar o Brock Lesnar. Ele não tem culpa de terem botado ele ali, mas eu ia pegar ele no chão, cansar ele bem, dar um passeio nele. Ele tem que pegar muita experiência, é meio louco, não tem técnica. Ele vai pra luta mesmo, na força bruta, mas chega uma hora que acaba o gás. Eu ia pegar ele numa chave de perna, kimura, ia pegar certo... Eu ia ficar me fazendo de bobão ali, esperar acabar o gás dele e finalizar.
Quer mandar algum recado para os assinantes da TATAME?
Fiquei muito feliz dos assinantes quererem saber de mim, ver que a galera está preocupada comigo. Foram muitas perguntas e fiquei muito feliz, isso me motivou ainda mais a treinar para voltar em 2009 com tudo. Vida de lutador não é fácil, nosso objetivo é dar show, lutar bem, mas não é sempre que conseguimos. O difícil não é a luta em si, se pudéssemos lutaríamos três ou quatro vezes na mesma noite, mas o dia-a-dia é o mais complicado. Estou feliz de poder mostrar pra galera que estou na ativa e que o que aconteceu foi uma fatalidade.
Tatame
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