segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Anderson Silva: "Uns são faixa-preta, outros são faixa-marrom, roxa... Eu sou preto inteiro"

Por Guilherme Cruz

Anderson Silva está com adversário novo no UFC 112. Até o começo do mês, o campeão peso médio do maior evento do mundo enfrentaria Vitor Belfort, mas agora terá que colocar o título em jogo contra Demian Maia. Em entrevista exclusiva à TATAME, Anderson comentou o que muda em sua preparação para o combate contra o paulista, considerado o melhor grappler do MMA na atualidade. No papo, Anderson falou sobre a concentração para a luta, o fato de treinar com André Galvão, ex-companheiro de Demian na Brasa, a escolha do UFC de colocar mais um brasileiro no seu caminho e o duelo contra mais um faixa-preta de Jiu-Jitsu no octagon.

Antes você ia enfrentar o Vitor, mas agora mudaram para o Demian Maia. Você já deixou claro que prefere enfrentar gringos, mas tem mais um brasileiro na sua frente... Isso te desagrada?

Está tudo certo, vamos que vamos. É uma grande oportunidade, não só para ele, mas para mim também. Eu vou fazer o meu trabalho, ele faz o dele e vamos que vamos, né, cara?

O Vitor, apesar de ser faixa-preta de Jiu-Jitsu, joga mais em pé. O Demian é exatamente o contrário. O que muda na preparação?

Estamos treinando, só precisamos adaptar o jogo. Uns são faixa-preta, outros são faixa-marrom, roxa... Eu sou preto inteiro, velho (risos).

Na última luta, ele mudou de estratégia e lutou em pé com o Dan Miller. Você assistiu essa luta?

Eu não vi, cara. Estou bem concentradão nas minhas paradas aqui, não estou vendo coisa nenhuma... Tenho evitado entrar na internet, não tenho dado nem entrevista. Estou bem concentrado pra fazer o meu trabalho bem feito e está tudo certo. Independente de ganhar ou perder, não estou muito preocupado com essa parada. Estou preocupado com fazer o meu trabalho.

O Sylvio Behring, seu treinador de Jiu-Jitsu, elogiou bastante o seu jogo de chão e disse que, se você se dedicasse ao Jiu-Jitsu como se dedicou ao Muay Thai, seria um dos melhores do mundo...

O Mestre Sylvio está me dando bastante força, como toda a equipe, que me dá uma ajuda muito grande. Temos o André Galvão, o (Ronaldo) Jacaré, (Rafael) Feijão, o Ramon (Lemos), que está vindo para ajudar o nosso trabalho. Tenho muita gente me ajudando, e eu acho que esse crescimento vem gradativamente. O resultado aparece com o treino que a gente faz. Eu treino Jiu-Jitsu há muito tempo. Nunca lutei nenhum campeonato grande como o Galvão, Jacaré, mas já treino de quimono há muito tempo. Não estou no nível de um André Galvão, Jacaré, mas estou aprendendo e acho que o mais bacana na vida é quando você tem essa evolução.

O objetivo é estar sempre aprendendo e acrescentando algum conhecimento, não só dentro da luta como fora também. O Ricardo Demente está aqui também, ajudando a gente. Ele tem um Jiu-Jitsu muito bom. Isso está fortalecendo e fazendo que a cada luta que passa estamos com mais de aprender. É a evolução. Podem falar o que quiserem, vamos lá fazer o nosso trabalho. Independente de ganhar ou não, isso está fora. Eu treino e estudo, fico aqui batendo em cima dos meus erros... Tento fazer exatamente o que estou treinando, o resultado aparece.

Antes de ser confirmada essa luta, o Demian disse que você o nocautearia se a luta fosse em pé, mas que ele o finalizaria se vocês lutassem no chão. Você acha que essa luta será assim?

Não é uma luta de Jiu-Jitsu, é uma luta de MMA, uma modalidade nova que engloba várias técnicas e elementos. É complicado falar que eu ganharia dele em pé e ele me ganharia no chão. Lógico que cada um tem sua maior especialidade, mas luta é luta. O MMA é um esporte novo, não existe nenhum estudo preciso então estamos treinando e estudando. Acho que tem que sentar a bunda numa planilha de treinos, ler e rever, assistir o que estamos treinando e não estamos... Vou continuar estudando o resto da minha vida. Isso tem dado certo. Pode ser que uma hora acabe, mas isso está dando resultado. Para mim, cada luta que passa é como se eu estivesse estudando para um vestibular.

Não me preocupo com o que as pessoas vão falar, quero fazer meu trabalho sempre com a cabeça erguida. Isso é o mais importante para mim. As pessoas perguntam “você acha isso, você acha aquilo”... É MMA, cara. Pode ser que a gente caia numa posição que eu consiga encaixar um golpe nele, pode ser que ele me surpreenda em pé com um soco... Isso faz parte, tem várias coisas por trás de tudo isso. A gente fala muita coisa, mas quando chega perto da luta as coisas vão mudando. Um dia que você não dormiu muito bem, uma pessoa que falou uma coisa errada na hora errada... Você tem que estar no seu momento, com as pessoas certas do seu lado, ninguém vendendo grilo... Pessoas que botam à prova tudo aquilo que você quer e isso faz a diferença ali em cima.

Seu melhor treino então é dentro de uma sala de aula...

Cara, estou na sala de aula todo dia. Tenho muitos professores cascas-grossas e isso é o que está sendo legal, aquela troca de conhecimento, surgem coisas novas. Está muito legal mesmo.

Uma das suas cartas na manga é o André Galvão, que treinou por muito tempo com o Demian na Brasa...

A gente está treinando... Se for a vontade de Deus que eu continue campeão, eu vou continuar. Se Ele achar que já passou, que outro merece essa oportunidade... Estou com uma cabeça completamente diferente, estou focado na luta. Não estou muito aflito ou preocupado, não estou me sentindo pressionado em lutar com o Demian ou qualquer lutador dessa ou de outra categoria. Estou preocupado com o que estou treinando todos os dias. Se eu conseguir fazer isso, o que estamos fazendo está dando certo e pra mim está de bom tamanho.

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