sábado, 8 de agosto de 2009

Murilo Bustamante

Por assinantes da TATAME

Líder da Brazilian Top Team, Murilo Bustamante aceitou o convite da TATAME e respondeu as perguntas dos assinantes da melhor revista de lutas do Brasil. Relembrando os momentos clássicos da rivalidade com a Chute Boxe, Murilo falou sobre os momentos inesquecíveis da sua carreira, a volta da BTT às competições de pano, aposentadoria e muito mais.

Hoje em dia, o que você pensa a respeito da extinta rivalidade entre BTT e Chute Boxe? Você acha que, de um certo modo, esta rivalidade possa ter contribuído para que o MMA seja visto com maus olhos pelo público brasileiro? (Pedro Martinelli Fabbri)

Acho que deve ser mantida dentro do ringue. Essa rivalidade começou com um mal entendido e depois se transformou numa grande vaidade, e isso foi bom, porque tiveram grandes confrontos. O pessoal da BTT, quando ia lutar com a Chute Boxe, lutava com mais apetite e vice-versa, isso foi bom quando se manteve dentro do parâmetro esportivo. Acho que não teve nenhum problema, porque não houve nenhuma confusão na rua.

Atletas que dizem não se gostar, que declaram guerra uns aos outros em público, como o caso de Wanderlei e Anderson, ou de Hughes e Serra, de certo modo, podem contribuir para que o MMA aqui no Brasil seja visto como algo negativo, induzindo ao fato de que os lutadores "brigam" e não "lutam", sem assimilar tais desavenças como show e entretenimento. Você concorda que o MMA não precisa mais utilizar a “raiva” para conquistar o público, uma vez que é emocionante por si só? (Pedro Martinelli Fabbri)

Eu acho que são problemas pessoais, não tem nada a ver com a equipe, mas acho que se isso for levado pra dentro do ringue não tem problema nenhum. Isso acontece em outros esportes como o Boxe, o Muay Thai, esse disse me disse é sempre bom para promover as lutas, os próprios promotores incentivam isso para ter chamada. Tem lutadores que são mais fanfarrões, falastrões e muitas vezes ganham na promoção, pois criam uma expectativa para a luta e para o publico. Não vejo isso com maus olhos, contanto que não briguem na rua, porque profissional não pode brigar na rua, isso é o principal.

Chute Boxe e BTT, declaradamente, não são mais rivais. Os atletas estão começando a frequentar diversas academias. Como você vê o futuro do MMA no Brasil, a respeito de equipes? (Pedro Martinelli Fabbri).

As equipes são fundamentais, pois são elas que criam, formam e dão estrutura aos atletas para trabalhar e se desenvolver. A BTT criou vários talentos renomados como Minotauro, Minotouro e o Arona, como o Wanderlei e o Anderson foram criados na Chute Boxe. Não é porque não existe rivalidade que as equipes não estejam interessadas... Você pode ver que muitos atletas que saíram de equipes estão procurando voltar, porque o ambiente de equipe é importante para empurrar o atleta para frente.

Você acha que a tendência é ocorrer como no futebol, onde um jogador defende diversos clubes ao longo da carreira? Será que as torcidas seriam para as equipes, e não para os atletas em si, como no futebol? (Pedro Martinelli Fabbri)

Eu acho que existem os dois. Pode acontecer de o atleta defender várias equipes, cada um procura o que é melhor para si, em determinado momento uma equipe pode ser boa para o atleta, em outro momento pode não ser e ele tem o direito de mudar, podem acertar ou não. Existem atletas que saíram de suas equipes e tiveram resultados muito abaixo do que costumavam obter, mas acho que, quando o atleta está buscando uma mudança, sem duvida está atrás do melhor, eles têm direito de fazer isso... Quanto ao torcedor, acho que isso vai variar, não é porque ele torce para determinada equipe que ele não vai poder torcer para um atleta de outra, ser fã dele, só porque não pertence à sua equipe favorita. Eu mesmo gosto de ver vários atletas lutando que não pertencem a BTT, admiro o talento de vários atletas... Acho que o talento deve estar acima do bairrismo.

Já tentei, por algumas vezes, assistir a eventos de MMA no Rio de Janeiro, mas é bastante difícil saber onde e quando os mesmos ocorrem. O acesso aos mesmos é um pouco difícil até para o público que aprecia o esporte. Como você acha que o MMA no Brasil pode ser divulgado e o acesso ao público possa ser facilitado, sem o auxilio de grandes emissoras de TV? (Pedro Martinelli Fabbri)

Não entendi porque você tem dificuldade de assistir aos eventos de vale-tudo. Está tudo aí, é só procurar nas mídias especializadas.

Grandes atletas, como Mark Coleman, Ken Shamrock, Rickson Gracie, Mark Keer, você e muito em breve Chuck Liddell, Sakuraba e Randy Couture estão aposentados, ou perto disso. Você acha que o UFC ou alguma outra organização deveria criar uma categoria máster para lutadores acima de 40 anos, com regras e equipamentos adaptados? Se sim, qual atleta você gostaria de enfrentar? (Pedro Martinelli Fabbri)

Eu acho que não, porque o que atrai o público são as altas performances. Quando o atleta não tem mais uma grande performance, ele não atrai a audiência e não gera mais lucro. O esporte é movido pelo financeiro e se o lutador não atrai audiência, ele não é interessante, independente do esporte. Eu acho que eu mesmo, quando não tiver condições de fazer performances interessantes, vou parar.

Do que você se orgulha e do que você se arrepende de ter feito na sua carreira? (Pedro Martinelli Fabbri)

Meu maior orgulho foi nunca ter trapaceado, nunca ter tomado nada, bomba, esteróide e ter sempre jogado na regra e enfrentados os adversários duros que enfrentei. Sempre fui um lutador honesto e posso dizer de boca cheia que isso poucos fizeram. Um arrependimento foi ter deixado o UFC quando eu era campeão. Hoje em dia, analisando friamente, acho que não deveria ter feito isso, mas é claro que não foi uma questão que dependeu só de mim. Se eu pudesse voltar atrás gostaria de ter ficado no evento.

Existe algum lutador que você gostaria de ter no seu time, mas ainda não teve a oportunidade de trabalhar junto? Ou algum atleta que você gostaria de trabalhar junto novamente? (Pedro Martinelli Fabbri)

Não, eu estou muito satisfeito com os atletas que eu tenho, essa garotada, adoro trabalhar com garotos, pois quero formar atletas. Eu sou daquela máxima que diz que craque a gente faz em casa, tipo o Flamengo. É o que me dá prazer, formar um atleta, um ser humano, e fazer ele campeão. Infelizmente, alguns deles viram estrelas e acham que não tem mais nada a aprender com o professor e seguem em carreira solo.

Porque a BTT deixou de investir nas competições de pano por um tempo? (Mario Neto)

Nós tivemos que optar e, na época, o nosso grande foco era o MMA. Nós delegamos poderes dentro da equipe e, realmente, o pano ficou meio esquecido.

Você acha necessário investir no quimono para reciclar a equipe? (Mario Neto)

Atualmente, nosso foco é estruturar a equipe no pano. Quero trazer a BTT para o nível que ele tinha, quero ela grande no pano de novo, disputando títulos e o meu maior foco é esse, trabalhar com a garotada e buscar o resgate da nossa equipe de pano. Eu fiquei muito tempo sem treinar de quimono por estar muito voltado para o MMA, mas acho que pude me dar ao luxo disso sem perder tanto, porque voltando meu Jiu-Jitsu para o MMA... Eu tinha uma base muito boa de pano, mas acredito que nenhum atleta deve largar o pano, pois é fundamental para ter um jogo mais refinado, pois, quando ele tira, fica mais rápido, principalmente na movimentação do quadril... É o quimono quem dá essa rapidez.

O que você acha que faltou para a BTT, que se tornou a melhor equipe de MMA do mundo, se manter no topo? (Mario Neto)

Nós já fomos a melhor do mundo, mas tudo na vida é feito de ciclos. O Flamengo já foi o melhor do mundo, o Manchester também, o Barcelona... É um ciclo. Assim como os jogadores, os lutadores vão em busca de novidades, carreira solo... Eu optei por trabalhar sozinho, hoje em dia estou sozinho na BTT e muito satisfeito, começando um novo ciclo, faz parte do esporte, da renovação. A Chute Boxe já foi uma das melhores, hoje em dia não é mais.

Bebeo Duarte disse em uma entrevista que um dos momentos mais decepcionantes de sua carreira foi quando você perdeu pro Dan Henderson na disputa do cinturão do Pride em 2005,na mesma entrevista Bebeo comentou que teria conversado com você antes da luta e que você teria dito que só venceria a luta se fosse por finalização ou nocaute, ou seja, descartando completamente a decisão. A decisão foi uma decepção para você? Você acha que o Pride não queria mais um brasileiro campeão? (Mario Neto)

Antes da luta eu já havia dito pra eles que se fosse uma luta dura, dificilmente eu ia levar, eu já sabia disso, tava na cara. O Pride era a maior renda de pay-per-view dos Estados Unidos, então eles queriam um campeão americano. Na luta contra o Murilo Ninja e em diversas outras, ele perdeu por margem apertada, mas acabou vencendo... Comigo não foi diferente. O momento dele foi curto. Eu dominei a luta inteira e deram para ele, mas eu já tinha isso na cabeça. Infelizmente, são coisas que acontecem, devido ao interesse econômico.

O Amaury foi, com certeza, o maior vencedor no Jiu Jitsu, venceu a todos, ficou invicto por muito tempo, mas não jogava bonito, jogava pra ganhar. Rickson, por exemplo, prega o jogo pra finalizar, pra frente. E você, que mesclava muito bem os estilos, hoje, em que a profissionalização se faz presente, acha que o Amaury e seu jogo seriam mais valorizados por poder render mais dinheiro, coisa que não existia antes? (Marcelo Artur Giacomelli Ferreira)

Eu discordo que o Amaury tenha sido o maior vencedor do Jiu-Jitsu, acho que tiveram muitos outros vencedores maiores do que o Amaury. Ele foi um grande lutador, um grande campeão, mas não foi o maior. É difícil analisar isso, eu lutava dentro da regra para vencer e tem outro lutadores que fazem isso hoje em dia, é difícil comentar outra época e imaginar...

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