quinta-feira, 23 de junho de 2011

Fabrício Werdum fala sobre a derrota para Overeem


Por Guilherme Cruz

Fabrício Werdum vinha de uma grande sequência de vitórias, sobre Mike Kyle, Antônio Pezão e Fedor Emelianenko, mas acabou eliminado do GP do Strikeforce após uma luta ruim contra Alistair Overeem. Após receber uma chuva de críticas dos fãs, Werdum concedeu uma entrevista exclusiva à TATAME, reconhecendo o desempenho ruim. “Eu acho que não foi ele quem ganhou, fui eu que perdi. Eu podia ter ganhado. A sensação que eu estou sentindo agora é pior do que se ele tivesse me espancado”, conta Werdum, revelando que em nenhum momento treinou para puxar a luta para a guarda e que lesionou o joelho no segundo round. Confira:

O que saiu diferente nessa luta do que você estava imaginando?

O Rafael (Cordeiro) pediu para eu começar a ter iniciativa em pé, e foi o que aconteceu. Todo mundo até comentou que eu estava bem em pé. Só que eu estava tão confiante na minha guarda, a gente treinou tanto a minha estratégia, mas não treinamos em momento nenhum puxar para a guarda, e o treino foi completamente diferente. Eu percebi uma grande diferença de força, eu achei que ele estava muito forte. Eu não sei, não adianta, não era meu dia... Eu senti que não estava bem, mas eu treinei bastante, mas eu acho que faltou um pouquinho mais de força. Eu queimei muito as minhas entradas (de queda) ali, e ao invés de mudar aquilo ali, porque deu para perceber que ele estava bem nas defesas, foi uma parede, onde eu batia e voltava. Dois pesos pesados com mais de 100kg, então a diferença de força é grande. Outra coisa que eu estou de cara é que eu não escutei a galera, e é uma coisa que eu sempre preciso.


O que você achou da sua evolução em pé nessa luta?

Sempre que o Rafael me falava para eu fazer uma coisa, eu fazia. Ele falou ‘a iniciativa tem que ser sua’. Isso eu consegui fazer, e até consegui acertar alguns socos nele, ele até se atrapalhou, não conseguiu fazer a sequência dele também, porque eu sempre chegava primeiro. Só que é aquele negócio: você fica naquela dúvida. Eu não posso ficar trocando com ele em cima e tomar um nocaute do Overeem, o meu negócio é Jiu-Jitsu. A galera ia cair em cima se eu trocasse com o cara em cima e tomasse um nocaute, por exemplo. Então são muitas coisas. Eu me preparei o suficiente, mas o que eu aprendi é que eu tenho que estar mais forte, porque eu senti muita diferença de força. Não era a estratégia que a gente tinha combinado, eu não escutei os meus corners em nenhum momento, eu estava no automático. Eu estava ali lutando porque eu sou guerreiro mesmo, a iniciativa era sempre minha.


Muitos fãs te criticaram pelo fato de você ficar puxando pra guarda o tempo inteiro...

A luta de MMA não é só em cima. Quando eu chamo os caras no chão, ninguém vem. Quando os caras me chamam em cima, eu ia, e subia dando nele, fazendo a sequência direto. Não queria me arriscar tanto em cima. O Rafael estava vendo de fora e eu devia ter escutado mais. Eu estava bem em pé, mas eu acabei pagando o preço por não escutar o meu técnico, porque a estratégia não era aquela ali. Chamá-lo para a minha guarda, uma vez que fosse, tudo bem... Mas, do jeito que eu chamei, eu cansei. Chamar para a guarda, e esse chama e levanta cansa para caramba.


Fiquei sabendo, também, que você lesionou o joelho... Como foi?

Não sei se a galera reparou, eu acho que não, mas no segundo round o Overeem calçou a minha perna e tentou me derrubar. Como a minha perna ficou fixa no chão, a perna esquerda, o meu joelho saiu do lugar.


O Overeem também te criticou muito, disse que a luta foi ruim por sua culpa...

O Overeem falou que ia me nocautear e eu não vi nada. Não teve perigo do Overeem acabar a luta, não houve knockdown, não teve... Eu não senti um golpe dele forte, que quase me nocauteasse. Ele deu uma entrevista e disse que quando um quer dançar e o outro não, não dá para dançar. Na verdade, quem fez isso foi ele. Ele ficou em segundo, porque a iniciativa toda da luta foi minha. Ele não veio para cima de mim, como faz sempre. Faz quanto tempo que o Overeem está ganhando as lutas dele no primeiro round, no primeiro minuto? Faz um tempo... E comigo ele não fez isso, não veio para cima, nem trabalhou por cima no ground and pound.


Como você está se sentindo em relação a essa luta?

Eu acho que não foi ele quem ganhou, fui eu que perdi. Eu podia ter ganhado. A sensação que eu estou sentindo agora é pior do que se ele tivesse me espancado, se ele tivesse muito melhor do que eu nos três rounds, ganhando bem, nitidamente... O cara tá foda, tudo bem, eu teria que abaixar a cabeça e treinar. Mas não foi assim. E é isso que me deixou de cara. Foi uma luta morna, a galera estava esperando muito mais, ele não quis lutar no chão de jeito nenhum.

Você pode ver que no finalzinho do segundo e do terceiro round, quando ele foi para o chão, dentro da meia guarda, ele ficou deitado, não deu um soco, que é o que ele está acostumado a fazer... Ele não fez isso, ele ficou só me segurando. Tem muitas coisas que aconteceram. Mas eu, particularmente, não estava muito bem. Eu treinei bastante, eu ia para o Wrestling, para o Muay Thai... Fiz tudo que tinha que fazer. Mas, no meu ponto de vista, para a próxima eu tenho que me dedicar para ficar mais forte, ficar bem forte mesmo, porque o que eu senti foi muita diferença de força.

Ele fez muita força para me segurar só. Ele fez a estratégia certa e eu errei porque não fiz o que a gente tinha combinado na nossa estratégia. Quando eu consegui fazer uma puxada de guarda, no finalzinho do terceiro round, que eu tentei aplicar um leg-lock nele, a gente treinou muito aquilo de puxar para a guarda e ir para a perna. E eu consegui fazer no final, que não era o momento certo. Eu tive a oportunidade de fazer no segundo round também, quando eu machuquei o joelho, e aí eu tinha quatro minutos e meio para trabalhar, e eu podia ter feito aquilo ali antes. Mas agora não adianta mais, eu fiz a estratégia tarde, consegui fazer, só que faltavam 10 segundos para acabar a luta, e não tinha tempo para mais nada.


Você falou que a estratégia não era puxar tanto para a guarda. Por que você insistiu tanto nisso durante a luta?

Porque foi aquilo que eu te falei: eu estava com receio do nocaute, dele acertar uma pancada muito forte, porque o cara é o campeão do K-1, e tal. Fiquei com medo dele acertar e depois a galera cair em cima, falando que eu não devia trocar com o cara em cima, porque era pra trocar um pouco em cima, mas para puxar para o chão. Eu não sei, mas foi praticamente automático, foi uma espécie de defesa.

Se eu não tivesse insistido tanto na guarda, eu acho que teria ganhado a luta. Não ia ser uma luta espetacular, mas eu ia ganhar por pontos porque se você olhar naquela pontuação, dá para ver que eu dei muito mais socos e tudo mais. Mas não adianta, a Comissão Atlética dos Estados Unidos é de Boxe e de Wrestling, eles contam muito isso. Então não foi legal da minha parte. Eu acho que errei muito também, mas eu acho que não foi um erro da minha equipe porque aquilo não era o que a gente tinha planejado, foi uma coisa mais pessoal mesmo. Quem me conhece, sabe que não era eu. Eu estava treinando muito melhor do que aquilo ali, eu treinei muito melhor.


O que o pessoal do Strikeforce falou da luta? Você chegou a falar com alguém da organização?

Não. Não cheguei a conversar com ninguém ainda, só o Scott mandou uma mensagem perguntando como estava o meu joelho e a minha recuperação, querendo saber se eu tinha que fazer alguma cirurgia, alguma coisa... Eu falei que não. Ontem mesmo eu fui no médico e fiz a ressonância, um médico indicado pelo UFC e pelo Strikeforce. Não teve nada de sério no meu joelho, não rompeu nada, mas vai demorar uma semana a mais para desinchar. Ele fez uma pulsão no meu joelho para tirar o líquido, porque inflamou bastante.


O que você espera para o seu futuro no evento, agora que está fora do GP?

Pretendo lutar nessa próxima fase do GP, não no GP, mas no mesmo evento, com o Arlovski ou Brett Rogers, que perderam. Eu acho que seria uma boa lutar nesse próximo evento e seria bom porque uma coisa que eu senti bastante foi essa coisa de ficar muito tempo sem lutar. Eu fiquei um ano sem lutar, é muito tempo. Perdi o ritmo de luta... Estava em um bom ritmo de treinos, mas de luta é diferente. No dia da luta é diferente. Eu acho que tenho que lutar mais vezes. Se puder, de duas a três vezes por ano. Não é uma coisa só que faz o erro. De repente foram várias coisas que, com o tempo, a gente vai corrigir todos os erros.


O que você espera dessa semifinal do Overeem contra o Pezão?

Na minha opinião, o Pezão vai ganhar do Overeem. E acho que vai ser até em pé. Se o Pezão for que nem da vez que ele tava com o Arlovski, ele ganha do Overeem. Eu lutaria no mesmo evento deles, não sei com quem vai ser, mas, com o Overeem perdendo, no próximo evento eu já lutaria com o Overeem pelo cinturão, depois de passar uma luta, para ter essa nega. Eu ganhei uma, ele ganhou outra, então a gente podia fazer essa terceira luta para ver realmente como ficou a situação. Está 1 a 1, então a gente tem que fazer esse tira-teima, porque não convenceu ninguém: nem para o lado dele, porque eu tive a iniciativa da luta o tempo inteiro, nem para o meu porque eu perdi. Se você olhar bem a luta você vai ver que ele não veio como ele sempre vem para as lutas, vindo para cima e fazendo bem o ground and pound, com aquele soco potente. Todo mundo viu que não foi uma luta boa.


Em setembro tem ADCC, e você foi o campeão da última edição. Pretende lutar?

Por mim, recuperando esse joelho, semana que vem eu já quero começar a musculação, o que der fazer, para eu poder lutar. Querendo ou não, é uma competição a mais, então não vou ficar um tempão sem lutar e tem muita coisa para rever. Na outra vez eu não pude lutar o absoluto, em 2009, porque o meu braço estava meio ruim, mas agora meu braço está bom e eu vou lutar. Vou lutar os dois.


Fique à vontade para deixar o seu recado...

Queria agradecer ao pessoal da TATAME, porque dessa vez eu fiquei mais motivado mesmo, pelo fato de ver a galera me ajudando muito. No Twitter, eu recebi muitas mensagens antes da luta, na hora da luta... No Facebook foi muito bom mesmo. Mas, não era meu dia, não era para ganhar, de repente não estava merecendo, não sei por quê. Não sei como te explicar, mas não era o meu dia. De repente eu podia ter ganho essa luta, mas de repente com uma unificação dos títulos no futuro venha, e não foi agora porque não era o momento, eu não estava preparado... Com certeza, eu vou aprender muito com essa derrota. Eu já aprendi bastante porque mexeu com tudo. Ganhar é muito mais fácil, mas quando você tem uma derrota, você tem que rever, tem que estudar tudo de novo, ver o que aconteceu, então tem muita coisa. Eu já estou aprendendo. Manda uma mensagem para a galera falando que eu queria agradecer ao Brasil, porque eu senti uma presença muito grande da galera torcendo por mim, mesmo eu não ganhando a luta. A motivação que a galera deu foi muito boa.



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