segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Um Anderson motivado contra Forrest Griffin

Por Marcelo Alonso

Responsável pelos treinos de Anderson Silva para a luta contra Forrest Griffin, Rogerão Camões abriu o jogo sobre a preparação do campeão para mais um desafio no UFC. Na entrevista exclusiva, que você confere abaixo, Rogerão comentou a empolgação do atleta para o combate. “Conversando comigo outro dia, ele confessou que estava muito feliz de estar indo para essa luta, porque ele está se sentindo muito bem. Ele absorveu muito bem e, dessa vez, está muito mais motivado”, afirmou Camões, que ainda comentou os treinos de Rafael Feijão, Ronaldo Jacaré e André Galvão.

Como é que está a preparação do Anderson Silva para a luta contra o Forest Griffin?

Faltando aí praticamente uma semana para a luta, o Anderson já está pronto. Nós fizemos uma preparação 100%. Ele veio muito animado, focado. Conversando comigo outro dia, ele confessou que estava muito feliz de estar indo para essa luta, porque ele está se sentindo muito bem e que o trabalho foi muito bem feito, então ele ficou satisfeito com o resultado. Mas é lógico que depende muito mais dele do que dos treinadores, porque ele tem a vida ele, tem problemas como qualquer outro pessoa. Ele absorveu muito bem e, dessa vez, está muito mais motivado. Não desmerecendo o Thales, mas o fato de o Thales ser brasileiro, aquela coisa toda, a polêmica do Jiu-Jitsu e Muay Thai, aquilo não foi um ânimo para nós, o fato de estar lutando com um brasileiro... Agora não, agora estamos indo lá para pegar um cara como o Forrest Griffin, um cara que já foi dono do cinturão na categoria de cima, tem todo um desafio e se tornou um trabalho bastante interessante.

Sábado a gente fez um sparring que impressionou, pois o Anderson está muito forte. Nós fizemos uma estratégia... Essa é a segunda luta dele com 93kg, ele não subiu muito de peso não, ele está se mantendo entre 94 e 95kg, e vai chegar lá com 93kg, para não ter que baixar o pes o. O que eu minimizei foi o stress. Nós vamos para essa luta tranquilos, felizes e sem preocupação. Ele teve um ganho muito grande de força, porque, quando ele desce para 83kg, ele perde força pela dieta, por ter que desidratar. Agora não, ele está bem.

E qual foi a estratégia do treinamento?

Eu priorizei o treinamento de força mesmo, porque o Forrest vai bater 93kg, mas deve lutar com uns 105kg. Não que ele seja mais forte do que o Anderson, mas vai estar mais pesado, então eu precisei trabalhar um pouco mais a força justamente para o Anderson poder suportar o peso dele, porque de força pra força ele vai trocar e está arriscado o Anderson estar mais forte, mas o peso pode atrapalhar em algumas situações. Optei por um trabalho de força e potência, e realmente o Anderson está impressionante dessa vez, cara.

Quem tem feito o trabalho de sparring?

O Feijão tem ajudado, o Jacaré tem ajudado bastante, chegou o Eric, de Vitória, um moleque muito bom. O Anderson está impressionando a todos com a força que ele está. Acho que a luta vai ser boa, vai ser um pau, porque o Anderson está querendo ir pro pau com esse cara, está afim de trocar o pau com esse cara e, na cabeça dele, está indo para derrubar. Tecnicamente ele está demais, estou vendo ele no melhor momento, tecnicamente e fisicamente. Ele é um cara movido a estímulos, ele gosta do cara que vem pro pau e essa luta está estimulando muito ele.

Na última luta ele não estava muito estimulado?

Foi um treinamento muito longo, três meses, com muito chão, porque era uma luta que poderia ir para o chão, e foi bom porque ele mostrou que estava preparado para ir para o chão. Esse treinamento foi muito maçante, e dessa vez ele está na casa dele.

Em relação ao Feijão, nós ouvimos muitas criticas sobre o gás dele, que ele cansou na sua última luta (no Strikeforce). O que você tem a falar disso?

Infelizmente eu não pude acompanhar ele nesse trabalho. O Feijão passou dois meses na América e eu ia, mas por motivos pessoais não deu, então a parte física dele foi feita através de e-mail, e não é a mesma coisa do que você estar do lado, ainda mais o Rafael, porque são quatro anos trabalhando juntos, dia-a-dia, no córner dele em todas as lutas, dormindo no mesmo quarto, controlando de perto o que ele come o que ele bebe... Eu sempre controlei muito ele nesse sentido porque sempre o acompanhei, e o fato de eu não estar junto dele deve ter dificultado para ele descer de peso.

Ele teve um problema porque teve que perder muito peso e desidratou demais e isso prejudicou a luta dele. É claro que a gente não vai justificar a derrota, porque o cara realmente mostrou que veio para ganhar do Rafael, mas todo muito passa por isso, um momento difícil na carreira, e eu achei isso super importante para o Rafael. Agora ele teve a experiência de uma derrota e uma das coisas importantes é que eu tenho que estar presente com ele o tempo todo, porque é a minha função. Sou o preparador físico dele e tenho um relacionamento muito próximo com ele, como de pai e filho, e acho que eu passo uma confiança muito grande por estar do lado do Rafael. Acho que ele cansou, mas não foi pela questão do condicionamento físico. Acredito que foi na hora da manobra pra descer de peso que ele desidratou demais e depois não conseguiu recuperar e entrou muito debilitado. Isso não é o normal do Rafael, todos conhecem o gás dele.

Quem são os atletas que você está trabalhando agora?

Anderson, Feijão, Jacaré e o André Galvão, que está voltando.

Como está o Jacaré?

Ele está agora em um período de recuperação. Foram seis meses treinando para uma luta que não aconteceu e, infelizmente, foi uma grande injustiça com ele, então preferi dar um descanso para ele porque aquilo o aborreceu. Dei duas semanas para ele relaxar, até porque eu ainda não tenho nada em vista para ele.

E a luta do Galvão. Você achou justo o resultado?

Foi outra injustiça. A luta foi equilibrada, mas ele levou primeiro round escancaradamente e isso prejudicou o garoto, tirando a chance do cinturão. Ele teve uma chance na América, estava indo bem aqui no Brasil... Às não é legal ficar mudando muito, em time que está ganhando não se mexe. Eu achei legal que ele está voltando, falou que vai voltar a treinar com a gente porque estava indo muito bem. Quando você cria uma estrutura muito forte, a vida na América fica muito difícil de se manter, é muito cara, tudo muito distante, o povo é muito frio, se você tiver um treinador é puro business, não tem essa coisa que a gente tem no Brasil, onde a gente vira uma grande família, um ajuda o outro, criamos amizades. O Galvão é um menino fabuloso e aqui ele se sente em casa, traz a filha, a mulher treina aqui na academia...

E o Jacaré, como é o seu relacionamento com ele?

Eu tenho um relacionamento muito bom com ele, profissional muito reto, consigo ter um papo muito reto com ele, bem aberto, o que facilita o trabalho, porque você sabe muito bem o dia em que o cara está chateado, quando ele está bem, quando está feliz demais, aí tem que diminuir, baixar a bola. É importante nós estarmos todos juntos, morando perto. A maioria mora no Recreio dos Bandeirantes, é mais prático. Nós estamos sempre juntos e isso fortalece o time. Vamos relembrar os grandes times, a ATT, a Chute Boxe, o Carlson Gracie, quando era uma potência, era todo mundo junto, todos conviviam juntos e isso faz parte da essência da luta em si, e não podemos perder isso. A família Gracie está aí para dar o exemplo. Você cria um vínculo, uma identidade, uma bandeira, não fica espalhado por aí... É bem melhor, não é?

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