quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Gracie mantém tradição da família e promete brilhar no UFC

Apesar de o UFC ter sido idealizado por um Gracie, apenas um integrante da Família mais tradicional do jiu-jitsu moderno pisou até hoje no octógono mais consagrado do MMA mundial.

Depois de Royce marcar uma era no UFC entre os anos de 93 a 95 e se apresentar mais uma única vez em 2006, um espaço permaneceu vago à espera de um Gracie.

No próximo dia seis de fevereiro, Rolles terá pela frente uma missão dupla: bater o libanês Mostapha Al-turk e “mostrar para o mundo que tem um novo Gracie na parada”.

Em entrevista ao blog Mano a Mano, Rolles prevê um ano promissor em 2010. Fala sobre a entrada precoce no UFC. Diz que irá em busca do cinturão dos pesados. E aponta as maiores ameaças da divisão dele.

Filho do lendário Rolls Gracie, Rolles tem 31 anos e está invicto em três lutas de MMA. Estréia no UFC 109, no dia seis de fevereiro, em uma das lutas preliminares.

Blog Mano a Mano - Quem da família Gracie está te incentivando a lutar MMA?
ROLLES - A família toda tem me incentivado. Mas, dois caras que têm me dado mais apoio são o Renzo Gracie, que ta aqui em Nova York comigo, e meu tio Ririon. Eu morei muito tempo com o Ririon. Ele é praticamente o meu professor de jiu-jitsu desde que sou faixa-branca. Continuo mantendo contato com ele. Ele é uma espécie de mentor pra mim. São os dois caras que tão me dando muita força.

Como surgiu a proposta para você ir para o UFC?
O meu empresário estava conversando com eles há muito tempo. Já estavam com o interesse de ver alguém da Família Gracie no UFC. Quando eu ganhei a minha última luta, uma luta na China contra o Peter Graham, a vitória repercutiu bastante aqui nos Estados Unidos, então o meu empresário estava em contato com eles (direção do UFC) e eles chegaram à conclusão que estava na hora.

Por que você defende que o jiu-jitsu é a espinha dorsal do MMA?
O jiu-jitsu te dá condições de diminuir as chances de uma derrota. Se você partir pra trocação, a vitória pode sair pra qualquer um dos lados. Inclusive na última luta do meu companheiro de treinos Rashad Evans eu falei pra ele: “bicho, eu até acho que você tem condições de nocautear o Thiago Silva. Mas se você quiser aumentar a chance de ganhar tem que derrubar o Thiago e levar a luta para o chão. Foi o que aconteceu. Por isso que eu acredito muito no jiu-jitsu. Mesmo no sufoco, com o jiu-jitsu você pode virar a luta, mesmo quando está exausto e sem gás.

Você pretende ser um lutador híbrido de jiu-jitsu ou quer se tornar mais técnico também em outras modalidades de luta?
Eu acredito que o melhor é ser um atleta completo. Hoje em dia todo mundo está estudando tudo. Se fosse na época do Royce, quando ninguém sabia nada. Os caras só sabiam uma modalidade, ai o jiu-jitsu se sobressaia, sem sombras de dúvida, como a gente viu no início dos anos 90. Mas hoje em dia todo mundo treina jiu-jitsu. O cara que diz que não treina está mentindo. Então, na verdade eu tenho que aprender outras modalidades. Tenho que aprender a luta em pé e as quedas, para conseguir trazer a luta para o meu jogo de maneira mais fácil. Se eu to treinando boxe, muay thai e wrestling hoje em dia é para poder botar a luta no chão de maneira mais fácil, sem dificuldade.

Quais seus principais títulos no jiu-jítsu?
Sou 3 vezes campeão panamericano de kimono. Campeão panamericano sem kimono peso absoluto. Tenho uma segunda colocação no Abu Dhabi em 2007 pela divisão dos pesados. Tenho dois títulos brasileiros. Um brasileiro por equipe.

O que te atraí no MMA? Dinheiro, desafio, reconhecimento?
Sempre que eu comecei a treinar eu via meus tios, dois membros da família, lutando Vale Tudo. Então, isso é uma coisa que eu sempre quis fazer. Eu me identifico muito com o Vale Tudo. Não é só pelo dinheiro. Eu sou apaixonado pelo que minha família faz. Tenho os meus parentes como heróis. Eu sempre os admirei e sempre quis ser igual a eles. Sempre os vi fazendo desafios de Vale Tudo e desde criança sempre soube o que queria ser. Acho que na verdade ganharia mais dinheiro tendo uma academia e me dedicando 100% a ela, mas eu quero fazer isso como um desafio mesmo. Sei que tenho potencial e quero seguir conquistando esse espaço.

Apesar de estar invicto, você tem apenas três lutas no cartel. Não é cedo para entrar no UFC?
Acho que não. Se fosse cedo eles não me botavam lá. Tem muita gente querendo chegar lá. Mas não é o número de lutas que te leva pra lá. Na verdade eu represento uma Família toda, com anos e anos de tradição. Acho que não tem muita diferença, não. Tendo uma ou duas lutas, eu acho que não faz muita diferença. A diferença está na minha experiência de estar treinado, para quando chegar lá dentro poder mostrar serviço.

O que achou de colocarem o Mostapha Al-turk como seu primeiro desafio?
É um adversário difícil. Ele não foi muito feliz nas duas lutas dele no UFC, mas na minha opinião ele é um cara perigoso, que tem um boxe bom, é um lutador de jiu-jitsu também, inclusive foi campeão de uma seletiva para Abu Dabhi, tem uma base boa de wrestling. É uma luta dura. Ele foi infeliz nas duas lutas que ele teve, mas não dá pra analisar quem ele é com base nessas duas derrotas. Não posso subestimar ele. Vou estar bem treinado para chegar lá e não dá bobeira. Meu plano contra ele não é mistério. To querendo levar a luta para o chão. E vamos ver no que dá. Se acabar no 1 round, maravilha. Se acabar no final, também tá bom. Só não posso perder (risos).

Seu jogo em pé, de zero a dez, que nota você daria?
É complicado falar. Comparando com um boxer? Não sei. É difícil comentar isso. Essa pergunta eu passo (risos). Essa é melhor perguntar para os meus treinadores.

O UFC pôs sua luta entre as preliminares. Isso te incomodou?
Não, cara. Na verdade, eu sempre to vendo o lado bom do negócio. A minha luta sendo a primeira do card, eu pelo menos sei que horas estarei dentro do ringue. Na verdade fica mais fácil para me aquecer e me preparar mentalmente. Não tem aquele negócio de te pressionarem a ter que entrar muito rápido na luta. Sei que se o evento tá marcado pra começar as cinco, as cinco eu to lá dentro brigando. Tenho que ver o lado bom disso. E para entrar no card principal só vai depender de mim. Só dependerei do meu trabalho e da minha dedicação. É uma questão de tempo.

Você entrará na luta pensando no bônus de melhor finalização da noite?
É claro que é sempre bom o bônus, mas eu não posso deixar esse bônus me tirar da minha estratégia e do meu plano. Vou sempre entrar na luta buscando a finalização e a vitória. Se acontecer de ganhar o bônus, maravilha.

Qual o peso de representar os Gracies no UFC depois de anos sem um Gracie por lá?
Cara, eu to amarradão com essa história. Tenho recebido o apoio dos fãs pelo Facebooker, twitter, no meu website. Então na verdade eu to amarradão. As mensagens de suporte só me motivam para treinar cada vez mais. Na verdade tem um peso, sim. Mas não to deixando me levar por isso. Eu luto por mim, pela minha família, pelos representantes do jiu-jitsu e pelos meus parceiros de treino para deixar a chama acessa para os membros da família que vierem.

No MMA, você prefere jogar na guarda ou atacar por cima?
Eu me sinto bem confortável por baixo. Mas eu me considero muito perigoso por cima também. Eu jogo bem por baixo também, mas o plano e cair por cima, já que facilita mais a vida.

O que 2010 pode representar na sua carreira?
Esse é um ano em que vou mostrar para o mundo que tem um novo Gracie na parada ai. Quero fazer pelo menos três lutas esse ano, mostrar meu trabalho e ser reconhecido.

Veremos Rolles com o cinturão dos pesados?
Esse é o plano. Eu não entraria nessa se não tivesse esse objetivo. Se Deus quiser a gente vai trabalhar muito por isso.

Tem chance de baixar algum dia para os meio-pesados?
Muito difícil eu baixar. Se eu cortar a perna talvez um dia eu consiga baixar de peso (risos).

Seu pai é apontado como o Gracie mais técnico da geração dele. Você concorda?
Concordo que não só foi o mais técnico da geração dele, mas sim da história. Claro que todos os membros da Família representaram mais um elo importante da corrente, o meu avô (Carlos), o Hélio, o Rorion. Todos foram importantes. Mas acho que o meu pai (Rolls) foi a ponte do jiu-jitsu antigo para o jiu-jitsu moderno. Meu pai revolucionou o jiu-jitsu. Quando ele morreu eu tinha 4 anos e não consegui ver o jiu-jitsu dele, mas pelo que me falam, ele foi o cara que mais revolucionou o nosso esporte. Vejo marmanjos falando dele com o olho cheio d’água. Por ai você vê como ele foi dentro e fora do tatame.

Aponte os cinco lutadores do UFC mais perigosos da divisão dos pesados?
Começaria pelo Brock Lesnar, que é o campeão. Com certeza o Rodrigo Minotauro, que tá lá também nas cabeças. Junto com o Frank Mir, o Júnior dos Santos Cigano e o Cain Velasquez.


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