quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Deputado de São Paulo quer proibir lutas na TV

Foto Roosewelt Pinheiro/ABR

O deputado José Mentor (PT-SP) propôs um projeto de lei em julho deste ano pedindo a proibição de programas de lutas e artes marciais pelas emissoras de televisão no Brasil. O projeto, que foi apresentado à Comissão de Turismo e Desporto (CTD), foi vetado no começo de dezembro, por não ter relação com a comissão. Mas pode ser apresentado a outra comissão, caso queira o deputado.

PASSADO POLÊMICO

O mesmo deputado que hoje parte contra as lutas esteve envolvido em questões polêmicas no passado. No auge da crise do “Mensalão”, seu nome foi apontado pela CPI como um dos favorecidos por Marcos Valério, tendo recebido R$ 120 mil por empresas do empresário.

Mentor, porém, disse que o pagamento foi feito pelo Escritório “Tolentino, Melo e Associados”, por serviços pareceres jurídicos, apesar de a empresa estar ligada à 2S Participações e prestava serviços para Marcos Valério. Segundo a CPI, Mentor não esclareceu a matéria jurídica referente aos serviços prestados.

Confira abaixo um texto de Camila Peireira, publicado na revista Veja em 2006, e clique aqui para discutir a polêmica no Fórum da TATAME.

Das duas uma: ou o deputado José Mentor (PT-SP) é o perseguido preferencial de nove entre dez acusadores surgidos no cenário político recente (e, nesse caso, todos os delitos que lhe são imputados não passam de calúnia) ou tem-se saído muito bem nas tentativas de driblar a lei (hipótese em que passa a ser um caso exemplar de corrupto impune). Breve retrospectiva: no ano passado, o deputado foi acusado de ter sido o operador do "mensalinho" que a gestão de Marta Suplicy é suspeita de ter distribuído a vereadores de São Paulo em troca de apoio a projetos da prefeitura.

A investigação, a cargo do Ministério Público Estadual, continua em curso. Também em 2005, quando veio a público o escândalo do mensalão, o nome de Mentor surgiu, reluzente, na lista dos políticos beneficiados pelo valerioduto. Processado pelo Conselho de Ética da Câmara, foi absolvido em plenário há duas semanas. Na semana passada, outra denúncia desabou sobre o petista: Mentor foi formalmente acusado de ter recebido suborno para beneficiar envolvidos nas investigações da tristemente famosa CPI do Banestado, da qual foi relator entre 2003 e 2004 (veja o quadro). Em depoimento ao Ministério Público Estadual de São Paulo, o doleiro Richard van Otterloo afirmou ter pago 300.000 reais ao petista para não ter seu nome mencionado no relatório final da comissão.

As revelações de Otterloo foram feitas ao promotor Silvio Marques e ao procurador da República Rodrigo de Grandis, responsáveis pelas investigações das contas mantidas no exterior pelo ex-prefeito Paulo Maluf e seu filho, Flávio. Otterloo trabalhou para os Maluf por pelo menos seis anos. Por meio do doleiro Vivaldo Alves, ele recebia dinheiro da conta Chanani (atribuída ao ex-prefeito, em Nova York) em duas contas próprias, a Jazz e a Campari, também em Nova York. Em seguida, repassava o dinheiro aos Maluf no Brasil ("em espécie e acondicionado em malotes", conforme afirmou em depoimento).

Quando, no fim de 2003, as relações entre Maluf e a conta Campari vieram a público, Otterloo preocupou-se com a possibilidade de ter sua participação no esquema investigada pela CPI. Decidiu, então, aceitar a sugestão que, segundo contou ao MP, partiu de Flávio Maluf: a de que procurasse uma determinada pessoa, ligada ao deputado Mentor, que poderia intermediar uma "negociação" para excluí-lo do relatório final da CPI. O Ministério Público deverá ouvir em breve essa pessoa. Otterloo diz ter entregado ao intermediário de Mentor 300.000 reais em dinheiro. Em troca, recebeu o disquete com o relatório final da CPI dias antes de o documento ser divulgado – para ter certeza de que seu nome não estava lá. Os Maluf também foram poupados no relatório de Mentor. O deputado-relator alegou falta de tempo para analisar os documentos relativos à família.

Mentor ganhou a relatoria da CPI do Banestado graças ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, de quem sempre foi próximo. A indicação era uma forma de o Planalto controlar a comissão, depois de tentativas frustradas de sufocá-la. Antes de eleger-se deputado federal, Mentor era o homem de confiança da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Como líder de seu governo na Câmara, atraiu desde o PMDB até malufistas históricos para a base da prefeita.

Durante o tempo em que permaneceu no cargo, Marta conseguiu maioria para aprovar tudo o que quis. Em julho do ano passado, o ex-tesoureiro do PPS Evaldo Rui Vicentini, em depoimento ao MP, acusou Mentor de ser o "homem da mala" no esquema do mensalinho municipal da petista. A existência do esquema havia sido revelada por VEJA dois meses antes. Mentor, é claro, nega ter participado da compra de vereadores em São Paulo, assim como nega ter sido agraciado com dinheiro do valerioduto. Na semana passada, negou também, é lógico, ter negociado a exclusão de nomes do texto da CPI. Mensalinho, mensalão, compra de votos, venda de relatório: é espantoso como a corrupção teima em perseguir Mentor.


Tatame

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