quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cris Cyborg

Por Guilherme Cruz

Deixou chegar, já era. Cris Cyborg precisou de quatro lutas e três nocautes para chegar ao topo do MMA feminino nos Estados Unidos, e não está disposta a deixar o posto tão cedo. Em entrevista à TATAME, a casca-grossa falou sobre as mudanças que o título trouxeram para sua vida, a expectativa para a primeira defesa de cinturão, que deve acontecer contra Marloes Coenen, os treinos com Tito Ortiz nos Estados Unidos, a próxima luta do marido, Evangelista Cyborg, no mesmo evento, e muito mais.

Como estão os treinos aí nos Estados Unidos?

Estou treinadinha, fazendo fisioterapia meu ombro, ele já está bem melhor, e estou esperando fechar a luta. Não sei se vai ser em dezembro ou em janeiro, mas quando fechar a luta vou acelerar mais o treino.

Como aconteceu essa lesão no ombro?

Essa lesão é antiga, desde o handball. Eu não conseguia mexer o ombro, mas agora estou fazendo fisioterapia para mantê-lo normal. Os dois ombros eram bichados da época do handball, tinha tendinite nos dois, mas continua ruim. Eu ia treinando forte e ele machucava cada vez mais. Eu comecei no handball com 12 anos, a~i as lesões vão aparecendo, né?

Você e o Cyborg devem lutar na mesma noite. Qual é a expectativa?

Vai ser maneiro, acho que vai ser a primeira vez que vamos lutar o mesmo evento e espero que a gente saia com a vitória para comemorar. Vai ser maneiro lutar juntos, a gente já treina juntos mesmo e vamos comemorara juntos. Ele baixou para 170 pounds (70kg) e está treinando muito.

O Cyborg já lutou de 93kg e agora vai para 77kg...

Ele lutou com 93kg, mas ele pesava 93kg mesmo. Depois ele baixou para 83kg e agora decidimos dele descer para 77kg.

No último sábado, a Marloes Coenen venceu e deve disputar o cinturão com você. Você assistiu a luta?

Eu ainda não vi a luta, mas sei que ela finalizou no arm-lock. Eu já sabia que ela ia ser a minha próxima oponente e o negócio é trabalhar com seriedade e, se tiver que disputar o cinturão, vamos disputar. Vou continuar treinando, acho que vai ser uma boa luta. O bom é que agora aparecem mais meninas para lutar e o bicho pega até pra mim.

O que mudou para você desde a conquista do cinturão?

As oportunidades aumentam mais, até mesmo no evento eu tenho mais visibilidade, e as pessoas me reconhecem na rua, estão valorizando o meu trabalho. Consegui o cinturão e agora vai ser difícil tirar de mim... Vou treinar cada vez mais.

Recebemos umas imagens de uma revista americana com um ensaio sensual com você. Como foi isso?

Foi maneiro, foi na revista MMA Ultimate Grappling, e foi muito legal. Saiu uma entrevista comigo também e foi legal, porque eu não falo inglês e as pessoas não me conhecem. As pessoas só sabem quando estou indo par ao ringue, quando falo que estou indo para nocautear, mas não mostram quem eu sou mesmo. Eu sou daquele jeito no ringue, fora eu tenho minha vida, eu não só luto... Ali eu luto pra ganhar, essa revista mostrou meu lado pessoal, a minha vida fora do ringue mesmo.

Você já está fazendo as aulinhas de inglês?

Eu me viro com a galera aqui, converso com todo mundo. Entendo um pouco, mas estou aprendendo cada vez mais. Na próxima luta eu vou arriscar mais, o público americano gosta disso.

Já vai deixar o discurso preparado, né?

É... Acabou a luta já pego o papelzinho (risos).

Desde que você venceu o cinturão, a procura das meninas na Chute Boxe nos Estados Unidos cresceu?

Na realidade, estamos esperando um pouco mais para abrir a academia aqui, até porque estamos no final do ano e essa é uma época ruim para abrir academia... Depois vamos abrir, quero dar aulas, ter alunas... Quero lutar, mas ter alunas treinando na Chute Boxe. Por enquanto, estamos aqui em Big Bear, treinando com o Tito Ortiz, que está se preparando para lutar com o Forrest Griffin. Estamos dando uma força, com os treinos de Jiu-Jitsu e Boxe, Muay Thai, e eles estão dando uma força pra gente também.

Como está a preparação dele para voltar ao UFC?

Ele este bem, no gás. É lógico que ele vem de contusões, o atleta assim nunca está 100%, mas ele está bem e acho que ele vai vencer essa luta.

Quais são os seus planos para o futuro?

Aqui é o lugar para ficar, mais fácil para arrumar patrocínio... Estou com saudades da minha família, mas gosto muito de morar aqui. No Brasil, eu não falo tanto quanto quando estou aqui. Está perto, mas na realidade não está perto... Eu não tinha treino como quando tenho aqui. Vou ao Brasil passear, mas as coisas aqui ainda estão se encaminhando.

Como ficou a família depois da conquista no Strikeforce?

Ficou todo mundo muito feliz, meus pais, meus irmãos, a família inteira ficou orgulhosa. Lutei muito tempo para estar onde estou hoje, sou guerreira, é gratificante ver que ela ficou orgulhosa, não só ela, como todos que torceram por mim.

Quando você começou, sua mãe te apoiava ou tinha um pé atrás com o MMA?

Eu jogo handball desde uns 12 anos e adorava esporte, eu jogava qualquer coisa, jogava campeonato de handball... Fui fazer atletismo também, e ela sabia que eu gostava de esportes, eu tinha bolsa de atleta no colégio, e dava para ver que eu ia viver de esporte. Não importava o que fosse, eu me dava bem no que jogava. Do nada, fiz a primeira aula de Muay Thai e gostei. Fiquei dos 12 anos 19 fazendo handball e atletismo, mas do nada fui para o Muay Thai e estou há cinco anos nisso. Estou sendo bem sucedida, com um cinturão, e estou super feliz.

Teve algum momento em que você pensou que isso não era para você?

Eu fazia faculdade de Educação Física e treinava, mas o mestre Rafael (Cordeiro) disse que achava melhor eu trancar a faculdade, porque o treino top da Chute Boxe era de manhã, e eu só podia treinar à tarde ou à noite. Ele falou: “acho melhor você trancar essa faculdade aí... Se você for fazer Educação Física você vai dar aula, mas no Muay Thai você vai poder dar aula do mesmo jeito e vai se dedicar mais”. Eu fui lá e tranquei a faculdade, minha mãe queria me matar, mas eu segui um sonho e graças a Deus fui feliz.

E valeu a pena?

Valeu a pena... Nenhuma mãe apoiaria uma filha com um olho roxo, mas ela foi se acostumando aos poucos e vendo que era profissional, fui ganhando as lutas... Eu desanimei uma hora que fiquei dois anos sem lutar, mas o mestre sempre falou que minha hora ia chegar, e a minha hora chegou. Agora as pessoas me reconhecem, sabem que eu treino duro, consegui patrocínio.

Como foram os seus primeiros treinos de manhã na Chute Boxe?

A chute Boxe tinha duas divisões, a de cima e a de baixo. Eu treinava na parte de baixo, mas o bicho pegava na parte de cima e eu queria estar lá. Fui buscando o meu espaço, fui buscando interesse, disposição, e queria ficar na parte de cima. Subi e não desci mais. Era um treino de ponta, não tinha noção de quem era Wanderlei, Shogun, e foi tudo novo para mim.

Como é a emoção de você relembrar esses tempos, estando no topo do MMA?

Fico muito feliz, queria agradecer a todos pela força de agradecer aos que torcem por mim. Estou sempre treinando, sempre estão me dando força desde o Muay Thai, os momentos difíceis que passei. Agora, fico feliz de poder ajudar as pessoas, a minha família... Estou felizona.

O que você está achando do crescimento do MMA feminino?

Eu acho que a cada dia vão ter mais mulheres, e fico feliz com isso. Pode ser que chegue ao patamar dos homens, a galera ta gostando de ver lutas femininas. As meninas tem que se dedicar para fazer a diferença. Tem que buscar o espaço, fazer mais para o crescimento e chegar a um cinturão. Foi difícil, mas a gente conseguiu. Dando show, lutando bem...

Você sonha lutar pelo UFC um dia?

Eu me imagino ali... Estou feliz no Strikeforce, mas seria mais uma porta aberta. Quem sabe futuramente...


Tatame

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