quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Paulo Nikolai

Por Eduardo Ferreira

Um dos treinadores de Muay Thai mais respeitados do Brasil, Paulo Nikolai soltou o verbo em entrevista à TATAME. No papo, que você confere abaixo, o treinador falou sobre a nova equipe em Campinas, prometendo revelar grandes campeões, e analisou o atual momento do MMA, apostando em Maurício Shogun contra Lyoto Machida e comentando a febre do Caratê no MMA. Confira abaixo a entrevista exclusiva com Nikolai.

Desde que você saiu da BTT, o que você anda fazendo?

Eu apareci em alguns eventos, dei entrevista para a TATAME, dei uns treinos para o Vitor Belfort, visitei umas academias no Rio de Janeiro e estou sempre trabalhando. A ideia de montar um centro de treinamento em Campinas surgiu há um ano, onde nosso objetivo é fazer o lutador ser um campeão nos ringues e na vida, um lugar aberto para os lutadores profissionais, iniciantes, empresários, meninas... Estou montando uma academia de primeira, com tatame cercado com grade de octagon... A BTT hoje é pequena perto do que já foi.

Você acha que a vaidade fez a BTT cair na crise?

Vaidade de todos, crise. Quando os membros de uma equipe vão se afastando, é porque já existe crise e, se a peça principal não perceber, tende a acabar. Eu sempre soube que a crise na BTT existia, eu tentava avisar e ninguém me ouvia até que aconteceu. Nunca mais vão existir duas equipes no seu auge do glamour como BTT e Chute Boxe.

Qual seu melhor e o pior momento como treinador da BTT?

Tive vários ótimos, mas eu destacaria Vitória da Conquista, na Bahia... Eu voltei de um evento em Natal, o Carlão estava com a perna toda machucada, mas lutou mesmo assim e perdeu por pontos. Eu, chateado, mas acreditando, fui a Salvador. Ninguém quis ir, viajei cinco horas de “pau de arara” e, no dia seguinte, foram seis vitórias. Momentos com Paulo Filho... A última reunião na BTT em 2006 foi muito triste, ali eu já vi o que ia acontecer, o que eu senti que aconteceria, a saída das grandes estrelas do MMA... Aconteceu, e foi meu pior momento.

Como você analisa os treinadores de Muay Thai e Boxe de hoje?

O Cláudio Coelho sempre foi brilhante no seu trabalho, sempre teve grandes resultados, ele fez grandes lutadores. Para mim, treinador precisa apresentar resultado, pegar o cara da raiz e treinar, então não tem como avaliar esses treinadores atuais. Hoje eu destacaria o Rafael Cordeiro, porque provou seu trabalho. Dos outros, não tenho o que falar. O que manda hoje no Vale Tudo é o time, o treinador de Boxe, o de Muay thai, é a equipe.

E o Dórea com o Cigano?

O Dórea dispensa apresentação, é um excelente treinador, principalmente no Boxe. O Cigano é um lutador muito bom, quem fez o Cigano, aí sim, esse treinador tem o mérito. Para um cara entrar na qualidade técnica, ele precisa pegar um lutador na raiz. E dizer hoje, no Brasil, quem é o melhor treinador, fica difícil, está muito nivelado.

Como estão as coisas na sua academia?

Eu hoje tenho uma outra cabeça com relação a lutador profissional. No centro de treinamento que eu vou dirigir não vai haver essa história de 10%, não trabalharemos com porcentagem de lutador. A Fighter’s Camp vai ser aberta para todos meus amigos quando forem para São Paulo. Já tenho fechado com alguns lutadores. No Jiu-Jitsu vou ter o Bruno Frazzato, que vai cuidar dessa parte. Estou trazendo um cara de Wrestling muito bom... Quem for treinar lá, vai pagar mensalidade como os outros, mas porcentagem de lutador isso não funciona mais comigo, não quero ter esse vinculo.

O Erick Silva esteve treinando com a gente, um garoto promissor. Meu filho Leonardo é um menino que está despontando, o Munil (Adriano) voltou para nossa equipe, apesar de estar vinculado a outras equipes, o que para mim não importa, desde que siga nossos procedimentos. Vamos inaugurar a academia no dia 12 de março e a Fighters Camp vai dar muito o que falar no cenário do Muay Thai, Jiu-Jitsu e MMA. O Muay Thai Nicolai Brasil vai crescer muito aqui no Rio de Janeiro e fico muito feliz por isso.

O que você acha do Vitor Belfort, que você já treinou, ter treinado Caratê?

(Risos) Quando o cara pega o Lyoto Machida, que nasceu no Caratê, com a distância dele... E o Lyoto treina Muay Thai, Boxe, Jiu-Jitsu, Wrestling, não é o Caratê que o leva a vitória, é o conjunto de tudo que ele pratica. O Anderson também é oriundo do Muay Thai, você não o vê dizendo que o Muay Thai o levou à vitória. O Vitor tem que treinar mesmo, mas é só você me apontar dez lutadores de Caratê que estão hoje dentro do Vale Tudo ganhando, eu mostro 20 do Muay Thai, 50 do Jiu-Jitsu... Mas todos praticam todas as modalidades.

O que um lutador de Vale Tudo pode pegar do Caratê?

Para Vale Tudo? Nada.

Nem distância?

Distância sim, mas se o lutador não treinar outras modalidades fica difícil. O Lyoto é um caso à parte, mas ele é esperto, ele absorveu de todas as partes. Haja vista agora o Shogun neutralizou todo o Lyoto, que nunca perdeu um round. Agora que uma modalidade vai ajudar nisso ou naquilo, me perdoe. O que vai ajudar é um bom treinamento, bons treinadores estudando a estratégia. Se fosse assim, o Lyoto teria nocauteado o Shogun, não teria tomado um soco, tinha dado 10x0, e isso não ocorreu.

E nessa segunda luta, você acha que vai predominar a técnica do Muay Thai do Shogun?

Eu estaria sendo ingrato em apontar um ou outro, mas para essa luta o meu preferido é o Shogun, e que seja nocaute. Que o Shogun vença mesmo para tirar todas as dúvidas, isso é o mundo todo que está falando. Eu sou do Muay Thai e o Shogun defende essa bandeira. Mas o Shogun não pode vacilar, senão vai tomar uma bomba.

Qual a estratégia que o Shogun deve adotar para vencer a luta?

Bater com cautela o tempo inteiro, cortar para a direita e para a esquerda. Eu só mudaria o passo, mais lateral. Neutralizar a saída de joelho do Lyoto e trabalhar curta distância empurrando, batendo o tempo inteiro, com repertório mais eficaz. Trabalhar movimentação o tempo inteiro em direções diferentes, para que o Lyoto se perca também. E muito preparo físico. O Lyoto é oportunista, tem que neutralizar o entra e sai dele. O Lyoto não tem muito como mudar... Ele vai mudar a estratégia de anos?

Se o Shogun fizer novamente a estratégia do chute ele pode ser feliz?

Com certeza, ele bate para arrebentar, é muito inteligente na luta. Acho que ele vai dar um pouco mais de ênfase nas combinações, ele sabe fazer força na hora certa e amadureceu muito. Acho que ele vai usar estratégia superior a que ele usou.

Você, o Luiz Alves e o Artur Mariano eram amigos e depois passaram um tempo se estranhando, mas agora parece que as coisas estão acertadas. É verdade que você está negociando para fazer parte da Confederação Brasileira?

Eu e o Luiz temos uma amizade de 30 anos, algo indestrutível... Eu vim para o Rio de Janeiro, vim passar um tempo e gostei do que vi e fiquei treinando o pessoal. Isso gerou política, fofocas, leva e trás e uma amizade que nós achávamos que não iria ruir nunca, aconteceu e que isso sirva de exemplo para todos aqueles que são amigos. Graças a Deus nós nos entendemos há dois anos, só que eu fui embora, voltei para Campinas e ficou aquela saudade, até que o Luiz me ligou há uns quinze dias e ficamos quase uma hora conversando. Ficamos felizes e eu tinha marcado um almoço com ele na terça-feira, mas na segunda ele sofreu o AVC.

Acredito que isso estava escrito na vida do Luiz. Creio muito em deus e temos orado muito pela recuperação e tenho certeza que ele vai sair dessa 100%. Eu já estive e coma uma vez, sofri um acidente em uma briga na praia de Ubatuba em 1991, onde eu dei um soco numa vidraça achando que ia acertar a cara do sujeito e acabei atingindo a artéria radial e não tinha hospital no local. Perdi mais de um litro de sangue, fiquei em coma, quase morri, mas o que me salvou foi a minha fé. Lembrei do meu filho de três anos que eu tinha e isso fez com que eu voltasse pra vida, acordasse. Fiz uma cirurgia e recuperei os movimentos da mão. O Luiz também tem uma filha pequena e tenho certeza que ele vai acordar desse sono porque ele sabe que tem que aproveitar a vida com sua filha, os dois filhos adultos, sua nova esposa, os alunos, amigos e nossa amizade. Torço 100% e peço que todos os verdadeiros lutadores de Muay Thai se unam e orem pedindo a recuperação dele.

E em relação a CBMT?

Eu já tinha alguns planos para voltar e graças a Deus estou me entendendo muito bem com o Artur Mariano, que foi um grande amigo do passado. Como ele sempre foi muito fiel ao Luiz Alves e na época a gente estava de birra, ele resolveu tomar o lado do Luiz e ele estava muito certo de fazer isso. Hoje em dia a gente dá risada e vai ser uma volta muito produtiva porque nosso grupo é muito grande. A Confederação tem que ter todo respeito porque não veio de ontem, eu já fiz parte da diretoria como fundador da CBMT e eu acho que a minha volta vai ser em grande estilo, vamos fazer um bom trabalho em nível nacional.

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